O modelo ecosuicida dos economistas segue incólume
Hugo Penteado
Autor do Livro Ecoeconomia - Uma Nova Abordagem (2003)
A Economia até hoje é uma irmã siamesa da Física, que 240 anos atrás era regida pela Mecânica Clássica.
Todos os axiomas e princípios de conservação da teoria econômica são mecanicistas. A Mecânica é perfeita para solucionar problemas da nossa realidade, mas jamais deveria representar um sistema complexo e vivo como a economia.
Mecânica é a ciência da locomoção. Basta saber posição, massa e velocidade e tudo é definido. O pecado mecanicista da teoria econômica faz os economistas, acreditarem nos seguintes absurdos:
(1) O sistema econômico é neutro para o meio ambiente.
(2) O meio ambiente é inesgotável.
(3) Todos os processos econômicos são totalmente previsíveis e irreversíveis.
Várias derivações desse erro epistemológico definem a mania de crescimento e o amplamente usado conceito do PIB. A PIBmania de crescimento.
O bicho da economia é muito estranho: não tem nem boca, nem reto. De onde vem os recursos e para onde vão os resíduos pouco importa.
Esse bicho só tem sistema circulatório e poderia existir em qualquer planeta, Júpiter ou Marte, e nenhuma das conclusões teóricas mudaria.
A lista é infinda, mas eu posso passar um trator nas florestas, basta dar marcha-ré que nada aconteceu. Reversível.
Isso tem repercussão desastrosa no sistema de preços: o custo de transformar a Amazônia ou qualquer floresta em monoculturas é zero.
Como o planeta é inesgotável e os economistas entendem que o planeta é um subsistema da economia, não há um balanço sobre os recursos da vida entre as gerações atuais e futuras, até porque elas nem nasceram ainda para reivindicar seu quinhão na Terra. Além disso, defendem que o capital produzido pelo homem (máquinas, equipamentos, etc.) são um perfeito substituto da natureza e seus serviços.
Toda essa esquizofrenia está ligada à ganância de uma elite reduzidíssima, atendida por essa pseudociência. Segundo os epistemólogos, a Economia é a mais clientelista de todas as ciências e exibe o maior desrespeito entre seus pares.
Albert Sabin, que descobriu a vacina, nasceu em 1906, no mesmo ano que Georgescu. Sabin não foi ignorado, Georgescu sim. Mas ele previu com precisão o que ia acontecer, muito antes das constatações sobre clima, perda de biodiversidade e outros sinais de problemas causados pelas atividades humanas.
Georgescu escreveu em seu livro em 1969:
Se a economia crescente do descarte imediato dos bens e do desperdício continuar, seremos capazes de entregar a Terra ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana.
A humanidade não faz nem mossa à vida bacteriana e a conclusão de Georgescu foi confirmada pelos biólogos e paleontólogos.
Stephen Jay Gould escreveu sobre o sexto processo de extinção em massa de espécies animais e vegetais atualmente em curso: "É muita ingenuidade achar que essa extinção não se voltará contra os causadores." Ou seja, a espécie humana.
Os números dessa extinção são avassaladores.
Não temos muito tempo.
Num artigo de Paul e Anne Ehrlich de 2015 os cientistas estimam que já dizimamos metade de toda a vida na Terra nos últimos 40 anos. A redução drástica das populações de seres vivos, como insetos, é tão grave quanto a extinção per se.
A outra metade será em prazo menor, porque essa destruição e extinção tem se dado, como tudo na economia, em escala geométrica.
Hoje somos capazes de contar perdas de espécies por minutos através da destruição contínua de ecossistemas.
A cada dia amanhecemos com menos ecossistemas na Terra.
A cada dia amanhecemos com ideias miraculosas de sustentabilidade, mas nenhuma delas interrompe essa destruição e sequer inclui a restauração de ecossistemas onde for possível.
Na Amazônia não é. O solo mais pobre do mundo sustenta uma floresta autotrófica que, uma vez morta, irá se transformar em um imenso deserto, assim como aconteceu no Saara, com os berberes e tuaregues pondo as árvores no chão. A diferença é que no tempo deles levou milhares de anos, no nosso só décadas.
Para um economista uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão.
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