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Termodinâmica e Papel da Entropia na Economia

Julio F. Campos

"Qualquer um que acredite em crescimento indefinido em qualquer coisa física, em um planeta fisicamente finito, é louco ou um economista".
K.E. Boulding

Nicholas Georgescu-Roegen, considerado o pai da economia ecológica, provocou um cisma na economia até então conhecida ao analisá-la não como um sistema fechado em si mesmo, mas como um sistema interdependente dos demais sistemas terrestres.

O que Georgescu-Roegen fez, resumidamente, foi perguntar o que aconteceria se a segunda lei da termodinâmica fosse aplicada à economia.

A segunda lei trata da entropia a qual, em um sistema isolado, sempre aumenta até não existir mais energia útil no sistema.

Entropia representa o nível de desordem em um sistema. No caso da energia, quanto mais desordenada ela for, menos trabalho ela pode realizar, até o ponto onde ela é inútil. Por exemplo, no frio as pessoas podem esfregar as mãos para aquecer, mas como resultado é produzido uma quantidade de calor que não tem utilidade para nada. Entropia. Mas para esfregar as mãos consumimos energia, a qual deve ser reposta.

Nosso corpo é uma fonte de entropia convertendo constantemente energia química dos alimentos em, dentre outras coisas, calor para manter nossa temperatura estável. Mas como trocamos calor com o meio externo, precisamos manter esse processo funcionando constantemente.

Pois bem. Se fôssemos um sistema isolado, eventualmente nosso estoque de energia acabaria, perderíamos a capacidade de manter a temperatura e morreríamos. Esta, por exemplo, é a situação dos exploradores dos polos que morreram de hipotermia após terminarem seus suprimentos de comida ou dos escaladores do Everest mortos durante a descida por falta de oxigênio.

Assim, devemos constantemente importar energia, na forma de alimento, para manter nosso corpo nas condições mínimas de funcionamento.

A primeira consequência do uso da entropia foi entender que para um sistema, no caso a economia, continuar em funcionamento constante ela necessita do contínuo aporte de energia/matéria.
O estado de entropia máxima é impossível e consequentemente sistemas isolados também o são.
Aqui temos o primeiro golpe na economia. A Terra é um sistema aberto apenas para energia, recebendo uma quantidade de energia solar a qual é fundamental para o suporte da vida. E mesmo a quantidade desta é limitada. Não podemos usar mais energia solar em um ano do que o Sol fornece. Mas a Terra é fechada para matéria. Como a matéria também se degrada com o uso, temos como resultado a situação em que é impossível o crescimento infinito em um sistema com recursos finitos, pois eventualmente a degradação dos recursos tornará seu uso inviável.

Hoje, em overshooting, sabemos que o crescimento, muito menos o crescimento sustentável, é impossível, pois o segundo golpe de Georgescu-Roegen foi demonstrar que, sendo os subsistemas da Terra abertos, se sustentando com base na constante troca de energia/matéria entre eles, o excesso de uso de recursos por um deles necessariamente resulta na escassez em outro, o qual deixará de operar adequadamente.

A figura abaixo ilustra esta situação. Nela observamos que a taxa de crescimento de um sistema, sempre em função dos demais sistemas, tende à estabilizar próximo ao limite de recursos que lhe estão disponíveis.
Este é o padrão observado em qualquer sistema natural.
Em destaque temos o limitado universo percebido pela economia, onde o crescimento sustentado pelos recursos externos criou a ilusão, dentro deste universo confortável, da possibilidade do mesmo ser infinitamente mantido pelos recursos externos, representado pela taxa ideal econômica de crescimento.


A área cinza representa todos os recursos que o sistema necessita para sustentar sua taxa de crescimento. A área laranja representa a zona onde o sistema está em equilíbrio, o qual é sustentado pelas interações entre com os demais sistemas.

A sustentabilidade de um sistema não é autônoma mas dependente de suas relações, e equilíbrio, com os demais sistemas.

Para se confundir crescimento sustentado com sustentável foi um passo curto e conveniente.
Assim, quando o sistema econômico cresce (e mantém sua entropia interna baixa) à custa da contínua importação de recursos do sistema natural (e social) estes eventualmente serão privados de fontes necessárias para sua própria manutenção, quanto mais para a exportação.

Uma vez que os produtos devolvidos pelo sistema econômico não podem ser assimilados pelo sistema natural (devido as modificações físico-químicas causadas pelo processo de industrialização) ou social (como o estresse), temos um déficit, onde estes fornecem recursos úteis e recebem recursos inúteis. Como resultado eles entram em colapso.

Sendo os sistemas social e econômico subsistemas do natural, se este colapsa os demais irão inevitavelmente colapsar.

Georgescu-Roegen, ao trazer a entropia para a equação demonstrou que antigos dogmas econômicos eram delírios antropocêntricos expondo que os limites do planeta limitam o crescimento contínuo de seus sistemas; que a de constante troca de recursos entre seus sistemas implica obrigatoriamente na necessidade de equilíbrio no uso destes por todos os sistemas; e que a manutenção artificial do sistema econômico em um estado de baixa entropia resulta obrigatoriamente na exportação de alta entropia, com o sistema mantendo o que lhe é útil e exportando o que não o é, resultando em seu eventual colapso.

Ao colocar a economia como um subsistema do sistema natural/social e determinar que este não possa usar impunemente e indefinidamente os recursos naturais, Georgescu-Roegen desconstruiu o pilar sagrado da economia tradicional, demonstrando a impossibilidade do crescimento infinito e a necessidade fundamental do equilíbrio para a existência do próprio sistema.

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