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Os Valores do Profissional de Sustentabilidade


Julio F. Campos 


Tenho lido alguns artigos sobre a importância dos valores individuais para a atuação, e sucesso profissional, não apenas em nossa área.

Sustentabilidade é um termo que terminou por ser utilizado para tratar de tantos aspectos diferentes do meio corporativo que é comum vermos pessoas, mesmo em sustentabilidade, questionando sua definição ou apontando a existência de múltiplas definições.

O fato é que o termo foi propositalmente prostituído para perder seu significado original, bem como sua simplicidade.

Como já apresentei seu significado e componentes que permitem sua existência anteriormente, não vou repeti-los aqui, mas para o leitor que deseja um entendimento simples e objetivo sobre sustentabilidade e ser sustentável segue uma explicação direta.
Pessoas, empresas e atitudes sustentáveis e pela sustentabilidade teriam impedido Mariana e Brumadinho de saírem do mapa.
Cruelmente simples; tudo aquilo que deveria ter sido feito para que tais tragédias, assim como outras milhares todos os anos em algum lugar do planeta, nunca ocorressem é sustentabilidade (aponto os casos de Mariana e Brumadinho pela sua característica reincidente por parte de uma empresa com alto padrão de relatório de sustentabilidade e também por sua proximidade com nossa realidade).
A sustentabilidade em último caso é construída por pessoas. E pessoas são definidas por seus valores.
Enquanto o público leigo bem intencionado busca alternativas biodegradáveis ao plástico, ao mesmo tempo em que espera no próximo lançamento de seu telefone preferido, o profissional da área deve atuar de forma mais direta em um conjunto de ações que resultem na real sustentabilidade. Ou deveria.

Vejo com frequência muitos recém-formados, ou futuros estudantes de áreas correlatas ao meio ambiente, frustrados com a falta de liberdade para aplicar seus ideais na prática, sendo barrados pelo muro dos custos e lucratividade. Não poucos terminam por abandonar a área.

Por outro lado vejo muitos profissionais da área apresentados como exemplos à serem admirados em função das posições que atingiram, muitos com suas palestras e eventos onde os afagos dos pares importam mais que a análise crítica de seus trabalhos. Alguns deste cinicamente comentam justamente sobre os valores pessoais enquanto citam como sucesso casos de empresas que claramente não passam de greenwashing.

Mas onde os valores individuais se aplicam?

Como ficou descaradamente óbvio no caso da Vale, em algum momento a barreira econômica falou mais alto que a ambiental ou social.

Em algum momento algumas pessoas, dentre elas profissionais de sustentabilidade, assinaram os documentos que viriam à permitir a morte de centenas de pessoas.

Não se questiona se tais documentos eram ilegais, incorretos ou fraudulentos. Questionam-se os motivos que levam à conivência de um profissional com uma tragédia anunciada.

E estes são vários, mas eventualmente se resumem ao medo da perda do emprego, do cliente no caso de consultorias ou auditorias, ou de eventuais promoções. Entretanto não podemos ser hipócritas e ignorar que pais de família precisam alimentar seus filhos e que as pessoas precisam de dinheiro para sobreviver, embora conheça muitos que procuram apenas fama.

Mas onde se traça a linha? Onde uma pessoa conscientemente irá dizer não sabendo das possíveis consequências para si? Esta é talvez uma das mais antigas questões sobre ética existentes.

É possível que o sim não resulte em uma tragédia local e palpável. Na verdade é o cenário mais comum. Um filtro de poluentes mais baratos irá gerar um pouco mais de emissões, mas ninguém irá morrer por isso, não é?

Mas e a substituição de um ingrediente que irá reduzir os custos de produção, mas pode, “pode”, ser altamente alergênico para algumas pessoas? Ou no caso apresentado a busca judicial pelo direito de continuar operando contrariamente à decisão de órgãos ambientais?

Sempre haverá pessoas por trás das decisões. Alguém sempre irá pesar os prós e os contras e considerar que os riscos “podem” ser aceitáveis, pelo menos economicamente.

Fica então ao futuro estudante/profissional da área, para reflexão.

Seus padrões éticos e morais, sua motivação para trabalhar pelo meio ambiente e pela sustentabilidade irão definir suas ações quando estiver na posição de decidir assinar ou não um daqueles documentos.

Escolha sabiamente.

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