Ecodesenvolvimento vs. Desenvolvimento Sustentável
Julio F. Campos
Ambos são aparentemente semelhantes para alguns, e buscam um mesmo objetivo, uma vida melhor, preservando os recursos para as gerações futuras.
Entretanto, embora tentem o mesmo fim, os meios são muito diferentes, e mesmo os fins também o são após uma análise mais profunda.
O desenvolvimento sustentável (DS) é muito simpático, até mesmo no nome, indicando que se pode desenvolver de uma maneira sustentada, preservando o meio-ambiente, prevendo um mundo melhor e mais igualitário. Mas são nos detalhes que os problemas começam a aparecer. Inicialmente propõe que os países desenvolvidos podem aplicar imediatamente o DS ao seu sistema de produção/econômico, por exemplo reduzindo as emissões de CO2 para a atmosfera, assunto que tem gerado muita discussão pois causaria uma necessária alteração qualitativa nos meios de produção e do estilo de vida destes países para se atingir a redução quantitativa das emissões desejada.
Será que o desenvolvimento de melhores motores, catalisadores, filtros, etc... não poderia gerar esta redução quantitativa, sem causar muita alteração para os processos produtivos? Possivelmente sim, mas não ajudaria a resolver os problemas, mas o estilo de vida ainda continuaria, e o consumo de petróleo, neste caso, também.
Pedir alterações quantitativas, como propõe o DS, não basta. É necessário que o estilo de vida dos países desenvolvidos seja alterado para um modo de vida menos consumista, e portando, menos impactante para o ambiente.
Lendo o Relatório Brundtland fica a impressão curiosamente que seu propósito na preservação do meio-ambiente para as gerações futuras não reside em uma preocupação com a beleza, com o prazer, ou com os serviços proporcionados pelos ambientes naturais, mas em manter uma fonte de recursos utilizáveis pelas próximas gerações.
Quando se passa os problemas para o países em desenvolvimento, a situação fica mais problemática, pois segundo o relatório, estes países ainda precisam crescer uma pouco mais para poder aplicar o DS. Curiosamente, este crescimento seria feito apoiado nos moldes fornecidos pelos países desenvolvidos, reforçando a relação de dependência tecnológica e econômica destes países, dependência esta responsável por vários problemas sociais existentes nos mesmos.
Qual o propósito então do DS? Não é possível mais que o crescimento ou desenvolvimento seja relegado a uma questão quantitativa. A sua qualidade é o fator de grande importância, senão o mais importante, nos problemas ambientais e sociais que enfrentamos hoje. Não basta reduzir, é preciso principalmente alterar o modo como o desenvolvimento é feito.
Quanto ao ecodesenvolvimento (ED), este é mais simpático e realista na visão do problema, mas por isso mesmo possui uma natureza mais utópica, difícil de ser alcançada.
Enquanto o DS prega um modelo mais ou menos padrão de desenvolvimento para qualquer país, o ED por sua vez diz que cada país deve procurar por soluções tecnológicas, sociais e econômicas próprias para seus problemas, este principio se aplica também para regiões de um país, ou até mesmo cidades.
Cada cultura deve resolver seus problemas do modo que seja melhor para ela. Seja adaptando uma solução utilizada em outro local, o criando uma solução própria, mas não importando puramente soluções de outros locais ou países pensando que “se é bom para eles vai ser bom para nós”. O nível desenvolvimento a ser alcançado dever ser adequado de acordo com as necessidades de seu povo, não com a do povo de outro país.
Por este motivo o ED é mais difícil de ser aplicado, pois seria um grande passo para os países em desenvolvimento chegarem a um desenvolvimento e crescimento que não apenas preservaria suas características e diferenças culturais em relação a outros países, mas também lhes proporcionaria uma independência dos países mais desenvolvidos. E é justamente isto que estes países não podem permitir, pois eles necessitam dos recursos provenientes dos países pobres para manter sua estrutura econômica.
Portanto, é mais interessante criar uma comissão para desenvolver um modelo novo, mas impraticável, o Desenvolvimento Sustentável, e fazer muito alarde para atrair a atenção sobre ele, a permitir que conceitos como o do Ecodesenvolvimento, criado por pessoas que realmente querem chegar a uma solução, geralmente espalhadas em várias universidades, se tornem difundidos e populares.
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