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Uma síntese da complexidade ambiental atual


Hugo Penteado
Julio F. Campos

Esse texto é uma análise resultante da observação de profissionais de sustentabilidade captada em redes sociais específicas sobre o tema do qual fazemos parte, além de ter sido a nossa própria constatação durante a convivência diária.

Falta aos estudiosos, estudantes e profissionais de sustentabilidade em geral uma formação sistêmica de economista ecológico com a abordagem do decrescimento (que não é o inverso do crescimento). A maioria dos estudiosos de sustentabilidade acredita muito no conserto desse sistema pelas suas beiradas.

A atual celebração do prêmio Nobel em economia (que  na verdade não é um Nobel) recebido por Paul Romer e William Nordhaus, por seu modelo teórico (neoclássico) de crescimento econômico o qual aceita a possibilidade de 3º C de aquecimento global, poucos dias após o relatório do IPCC apontar as catastróficas consequências do aumento em apenas 1,5º C demonstra a falha de percepção sistêmica do problema.

É necessário formatar esse pensamento de forma sólida para mostrar as falhas dos argumentos que apostam as fichas em inovações e tecnologia, sem mudar o cerne do problema, sem transformar o paradigma, sem nunca incluir verdadeiramente as variáveis sociais e ambientais na equação ou na solução proposta.
Mais importante, não invertem o eixo no qual o sistema econômico é tratado como sistema maior e a natureza como subsistema, o que torna a economia um sistema isolado, cujo único exemplo na física é o Universo.
Com isso, é como se não existissem limites ecológicos para o sistema econômico e sua expansão. Até agora mantemos totalmente inalterada a rota de colisão com a Terra e seus sistemas de sustentação de vida e tornamos o cenário de extinção total não mais possível, mas provável. Tentamos otimizar um sistema já em “overshooting” com vários de seus limites extrapolados o que aumenta as chances de colapso.

Nenhum dos alertas científicos feitos desde os anos 90 e de Georgescu desde os anos 70 foi absorvido pelo pensamento econômico tradicional e pelo politburo econômico, e, hoje, é foco de ataques em defesa do crescimento infinito. Ataques feitos em redes sociais por “influenciadores” focados em agendas específicas e cujos influenciados são incapazes de perceber as falácias teóricas em seus textos, como observado no atual debate Liebreich vs. Dietz.

O mais incrível é que após 20 anos de discussão sobre sustentabilidade ou objetivos de desenvolvimento sustentável, e 6 anos após a confirmação das previsões do modelo do Clube de Roma nenhuma das variáveis críticas parou de ser deteriorada perigosamente. Nem sequer reconhecemos que está em jogo a continuidade da vida na Terra e que as trajetórias observadas dessas variáveis críticas - e não apenas do clima - tem ocorrido dentro das piores previsões feitas.

Quando se considera que pouquíssimos países tem a capacidade de existir dentro dos limites de seus sistemas, sobretudo os desenvolvidos e superdesenvolvidos que clamam suas virtudes em ações sustentáveis, temos um cenário sombrio para o futuro.

Os cientistas recomendaram estancar imediatamente o crescimento populacional nos anos 90 quando éramos cinco bilhões de pessoas e hoje somos quase oito. Por ano sentam à nossa mesa global de jantar mais 100 milhões de pessoas. Mas não podemos esquecer que essa não é a única população que cresce, pois cresce também ininterruptamente a demanda por carros, de celulares, de equipamentos, de campos de golfe, de edifícios, de pontes, de aviões, de navios, de energia solar, de usinas hidrelétricas, de carros elétricos, etc.

Existe uma crença claramente distorcida, e refutada, da realidade que uma forma ecoeficiente de produzir mais coisas com mais pessoas dentro da Terra - embora finita - terá impacto nulo ou imaterial, o famoso desacoplamento do crescimento, como se estivéssemos em pleno Jardim do Éden.

Adicionalmente, o assunto de enorme concentração de renda e riqueza que caracteriza as economias e piorou muito nas últimas décadas passa ao largo dessa discussão, como se não fosse assunto importante de sustentabilidade.

Sabemos hoje tardiamente que a criação de áreas protegidas públicas e privadas para salvar a natureza será completamente inútil sem uma mudança comportamental sistêmica e que as pessoas, por não estarem numa redoma a salvo do que acontece no resto do planeta, irão perecer. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase todos os parques em que se retiraram pessoas e suas atividades estão desertificando, tal qual em outras áreas cuja pressão antrópica foi muito grande. O caso de Yellowstone é emblemático exemplo das benéficas consequências do fim da intervenção humana na operação de sistemas naturais.

A presença humana hoje é reconhecida pela comunidade científica como sendo benigna para a natureza, particularmente para sua conexão, sobretudo das crianças, com a natureza e fortalecimento de seu desejo em preservá-la, afinal foi dela que nós viemos.
Se nós não fôssemos uma contribuição para o equilíbrio da natureza nós não estaríamos aqui.
No entanto muitos questionam que se apresenta o que é necessário ser feito, mas não o como fazer. Infelizmente receitas de bolo não são possíveis, mas as correções de um sistema educacional para a sustentabilidade falha são. A partir do momento em que um estudante de biologia se forma necessitando de um mestrado para ter um contato inicial com teoria de sistemas, conforme observado por um dos autores, temos uma correção a fazer. Quando um profissional da área divulga em redes sociais, maravilhado, que nova sacola plástica pode ser diluída em água, mas falha em lembrar que o esgoto humano também o pode e isto não é sinônimo de ausência de poluição, temos uma correção a fazer. Se estudantes da área, independente se em graduações ou pós-graduações, falham em perceber as incoerências daquilo que lhes é apresentado e analisar criticamente o problema, temos A correção a ser feita.

Enquanto o elemento humano e social não for considerado o vetor principal da sustentabilidade verdadeira, não iremos avançar um centímetro sequer. Precisamos resgatar nossa espécie como um elemento integrado à natureza, dela dependente, e não contrário a ela. Decrescimento, pensamento sistêmico e agroecologia são algumas das ferramentas

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